Meu cérebro durante uma interpretação simultânea
Às vezes nos perguntamos o que, afinal de contas, está passando na cabeça do palestrante que estamos interpretando. Nossa colega Eliza Kalderon, no entanto, faz a pergunta contrária. No seu estudo de doutorado, ela observou o que acontece exatamente dentro do cérebro dos intérpretes de tradução simultânea.
Para descobrir, ela colocou cobaias humanas dentro de uma máquina de fMRI (ressonância magnética funcional) e monitorou seus cérebros enquanto interpretavam, ouviam ou faziam exercícios de shadowing*. Eu fui uma das voluntárias e segui para o Hospital da Universidade Saarland em Homburg/Alemanha, em novembro de 2014.
Antes de mais nada, o Dr. Christoph Krick nos apresentou uma introdução técnica detalhada, incluindo uma demonstração de como é possível fazer mágica com a ajuda do campo magnético (com chapas de metal voadoras e afins). E então lá fui eu para o tubo.
Para minha alegria, era bastante confortável. Eu não podia mover a cabeça, ok, mas felizmente tinha bastante espaço para minhas pernas. Então Eliza me fez ouvir, interpretar e repetir dois vídeos: um do alemão para o espanhol e outro do espanhol para o alemão.
A máquina martelando na minha cabeça foi um pouco incômoda, obviamente, mas tirando isso, meu maior desafio foi manter as mãos quietas enquanto interpretava. Eu não tinha percebido até aquele momento a importância dos gestos ao falarmos.
Depois de uma hora e meia de trabalho (com pequenas pausas), eu estava bem cansada, mas fui recompensada prontamente. Não só ganhei um chocolate logo depois do exercício, como também pude ver meu cérebro no computador do Dr. Krick.
Há, naturalmente, diversos fenômenos interessantes para se observar neste estudo. Para descrever um deles, é melhor citar a explicação do Dr. Krick literalmente:
“Como você cresceu falando alemão como sua língua materna, apesar do seu alto nível de competência linguística, podemos ver pequenas diferenças entre as duas tarefas semelhantes em termos de desempenho sensorial e desempenho motor no seu cérebro. No entanto, não podemos desconsiderar o fato de que essas diferenças também podem ser atribuídas às respectivas habilidades retóricas do Sr. Gauck e do Sr. Rajoy (os palestrantes). Ao traduzir o Sr. Gauck para o espanhol, comparativamente você realizou menos esforço para compreender, mas o cerebelo na parte de trás da sua cabeça teve um trabalho mais difícil para poder articular a língua espanhola”.
“Por outro lado, ao traduzir o Sr. Rajoy para o alemão, comparativamente seu cerebelo precisou de menos energia para controlar a sua pronúncia. Seu córtex auditivo secundário, localizado no lobo temporal, teve que fazer um maior esforço sensorial, a fim de entender o que estava sendo dito. Essas diferenças são, no entanto, muito sutis, a baixa magnitude delas na verdade leva à suposição de que você trabalha praticamente de modo igual e bem em ambos os sentidos”.
Este é apenas um dos muitos aspectos interessantes. Outro aspecto que vale a pena ser mencionado pode ser o fato de que meu hipocampo estava um pouco grande demais – como os de ratos presos em labirintos ou dos motoristas de táxi de Londres… Estou bem ansiosa para receber os resultados completos e ler sobre as descobertas científicas que a Eliza divulgar assim que tiver terminado seu estudo!
*Nota da tradutora: shadowing: exercício de treinamento para intérpretes que consiste em escutar um discurso e repeti-lo de maneira igual, no mesmo idioma. Serve para aprimorar a pronúncia das palavras no idioma estrangeiro e adaptar os diferentes movimentos de articulação.
Tradução do original em inglês disponível aqui.
Traducción al portugués del original en inglés disponible aquí.
Portuguese translation of the original English version available here.