É sempre do mesmo jeito: você está batendo papo com alguém novo, aí vem a pergunta: “E aí, você trabalha com que? Sou tradutora.” “Você traduz o que? Coisas que você nem imagina.”
“Você traduz livros?”
Bom, a tradução literária é um dos muitos nichos da tradução. Em geral, são tradutores freelancer, que trabalham em casa, contratados por obra e por uma editora, daí o nome “tradução editorial”. Esses profissionais costumam cobrar por lauda, têm prazos de entregas parciais e, até onde sei, não veem muitas vantagens em usar CAT Tools.
A tradução literária exige do tradutor um amplo vocabulário, linguagem rebuscada e cultura geral ampla – imagina traduzir as gírias de um livro escrito para adolescentes, por exemplo? Uma boa referência online sobre esse campo é o blog Ponte de Letras, organizado por quatro tradutores feras no assunto. Ano passado, a ABRATES fez uma campanha bem bacana sobre a importância de se colocar o nome do tradutor nos livros. Se você reparar, isso não é uma prática muito comum, não é um absurdo? Vamos reconhecer esses grandes profissionais, por favor.
Quer ser tradutor literário? Leia bastante, esteja familiarizado com o contexto do mercado de editoras e se prepare com cursos especializados. A graduação da Universidade de Brasília (UnB) oferece duas cadeiras sobre tradução literária: de inglês para português e o contrário.
“Você faz legendas de filmes?”
Já a tradução audiovisual é mais uma opção do nosso meio. Esse profissional tem que ter boa habilidade de escuta, pois nem sempre recebe a transcrição ou script do áudio. Tem, também, que trabalhar com a restrição do espaço da legenda, visto que o olho humano só é capaz de ler um determinado número de caracteres por segundo. Muita gente atualmente faz legendas por hobby para os seriados que acompanha e disponibiliza na internet, mas tradutor/legendador também é uma profissão de verdade.
Nessa opção, você pode trabalhar em casa ou dentro de uma empresa especializada. Acredito que o pessoal de audiovisual também não faça uso de CAT Tools. Eles costumam trabalhar com um programa específico de legendagem, onde é possível traduzir e demarcar os pontos de entrada e saída da legenda da tela (outra função desse tipo de profissional). Há cursos específicos para esse ramo, até mesmo online, veja aqui uma lista.
“Você traduz o Oscar?” ou a variante “Você quer trabalhar na ONU?”
Sobre esse ramo, já falamos bastante aqui no blog. Os tradutores de língua falada são chamados de intérpretes. Resumindo: intérpretes falam, tradutores escrevem. Daí a necessidade de concentração, talento para oratória, boa escuta e organização multitarefas desse profissional. Os intérpretes costumam trabalhar traduzindo palestras, conferências e até pequenas reuniões.
Muitos trabalham com TV, como na transmissão de eventos como o Oscar, anúncio do novo papa, posse de presidentes, lutas de UFC, etc. Outros trabalham em órgãos que demandam bastante trabalho de interpretação, como as Nações Unidas, o Parlamento Europeu, a Organização dos Estados Americanos e muitos outros. Outro tipo de intérprete é o de língua de sinais, que estão cada vez mais presentes em importantes eventos hoje em dia. Em geral, os intérpretes são profissionais autônomos, têm empresa própria e muitos conciliam suas atividades com as de tradutor.
Tradução de jogos
Você gosta de videogames? Já percebeu que quase sempre existem versões em português? Adivinha quem traduz. Sim, localização de jogos é mais um nicho da tradução. É um ramo relativamente recente, que vem crescendo bastante no mercado. Há muitos cursos especializados disponíveis e, novamente, o tradutor pode trabalhar em casa ou em uma empresa de jogos, in-house.
Tradução técnica
Outro ramo bem popular é a tradução técnica. Muita gente se especializa em tradução jurídica, tradução médica, tradução de metalurgia e por aí vai. Esse tipo de profissional, sim, usa e abusa das CAT Tools. Eles acabam pegando muitos termos repetitivos, cujas traduções esse tipo de programa armazena. Outra grande funcionalidade utilizada por tradutores que costumam traduzir um mesmo tipo de textos é a facilidade que esses programas oferecem para produção de glossários.
A tradução técnica demanda pesquisa intensa, estudo do ramo de atividade específica e muitas palavras traduzidas para se alcançar um nível de especialidade. Um bom exercício para quem quer começar a se especializar é a leitura dos cadernos de economia e ciência dos maiores jornais brasileiros. Como eles costumam traduzir artigos de agências como a Reuters ou de publicações estrangeiras e publicá-las em português, você pode usar seu talento investigativo online, descobrir o original e comparar com a tradução publicada. Ao mesmo tempo em que você monta um glossário temático, aprende sobre aquele assunto de maneira didática, pois os jornais escrevem para um leigo entender sobre aquele assunto específico – a alta do dólar, por exemplo.
Tradução juramentada
Finalmente, meio que concluindo a lista (ou não, sabe-se lá), existem os tradutores juramentados ou tradutores públicos. São um tipo de profissional específico. Esses tradutores foram aprovados em concurso público e têm vínculo com a junta comercial de cada estado. O tradutor juramentado é o único que oferece traduções com fé pública, ou seja, que são reconhecidas em juízo. Em geral, são contratados para a tradução de documentos como históricos escolares, diplomas, certidões, contratos, procurações, enfim, burocracia. Cobram segundo preço tabelado de cada junta e entregam suas traduções em papel timbrado específico ou em meio virtual, com assinatura eletrônica.
Para todos os tipos de tradutores, um feliz 30 de setembro, dia de São Jerônimo, aquele santo homem que teve um trabalhão traduzindo a Bíblia e deu fama à nossa profissão.