Pequeno manual do tradutor autônomo – Parte 1

Mês passado o site – e, em consequência, o blog – fez um ano de existência. Data especial, eu sei, mas tive tempo de comemorar? Não. Portanto, pausa para a comemoração:

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 (Fim da comemoração)

Agora que finalmente me sobrou um tempinho, decidi celebrar o meu primeiro ano como freelancer somente começando a escrever um “Pequeno manual do tradutor autônomo”. Trata-se de dicas básicas a iniciantes e curiosos sobre como conseguir trabalhar por conta própria neste meio tão complicado. Sim, complicado pacas.

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Por enquanto serão 5 dicas, ao longo do ano vindouro compartilho mais aprendizados. Vamos a ele?

 Lição número 1 – faça um perfil no Proz

O Próz (ou Pró Zê, pronúncia à escolha do freguês) é uma grande plataforma online sobre tradução, um local onde você pode:

  • discutir os melhores termos para tradução;
  • montar glossários;
  • ter um endereço na internet personalizado, através do seu perfil;
  • encontrar trabalho;
  • pesquisar clientes.

Eu fiz meu perfil no Proz antes de me formar e aprendi muita coisa ali fazendo perguntas nos fóruns e montando glossários dos meus primeiros projetos. Antes de saber pesquisar e contar com um bom glossário alimentado por mim, fiz muitas perguntas nos fóruns, montei diversos glossários aos pouquinhos. Acho um canal de projeção profissional muito importante, daí no último ano ter feito uma conta paga, depois de muitos anos de uso de conta gratuita. São diversas as vantagens para os associados, mas destaco a pesquisa dos clientes no BlueBoard. Desconfiado de agência mal pagadora por aí? Lá outros tradutores comentam e avaliam todos aqueles bons e maus pagadores. Se não estiver listado lá, a chance de cilada é alta.

Resumindo: trata-se de um ótimo site para fuçar – descobrir os eventos que virão por aí, ter descontos em compras de licença de CAT tools, marcar presença.

Lição número 2 – Currículo

Os currículos que você for enviar para todas as centenas de agências (centenas, sim – desculpe o choque de realidade) ou mesmo clientes diretos devem estar em formato pdf, salvos com seu nome. Exemplo: “MarinaBorges.pdf”. Não envie nada em .doc, pdf passa uma imagem bem mais profissional e você não corre o risco de alguém editar seu arquivo. Também não salve só “Currículo.pdf” porque imagine quantos com esse nome eles têm lá. Vai passar batido.

Sobre os detalhes do currículo, os conselhos que posso dar são simples. Informações de contato, só é necessário: nome, telefone, e-mail e endereço. Nada de CPF, filiação, certificado de reservista, solteira sem filhos disponível para viagens. Simplicidade é a alma do negócio. Do mesmo modo, coloque sua experiência profissional relacionada a tradução, somente. Se você teve um emprego não relacionado a idiomas, por exemplo, não precisa mencionar.

Outra coisa: não precisa exagerar na fluência do idioma estrangeiro. Se você não for bilíngue, não encha a bola sem saber. Dominar um idioma leva anos, então já começar se qualificando como fluente é exagerado. Destaque também o nível certo dos seus idiomas – eu falo inglês melhor que espanhol, por exemplo. Nem me atrevo a traduzir para o espanhol, só dele para o português. Humildade e canja de galinha não fazem mal a ninguém.

Lição número 3 – tenha uma CAT Tool

Uma informação que as agências costumam pedir aos tradutores é sua produção diária. Este número de palavras varia de pessoas para pessoa, mas acredite, com a ajuda de um programa de computador, você traduzirá bem mais rápido. Não estou falando de tradução automática, mas sim de softwares que armazenam TMs (translation memories, ou memórias de tradução) e glossários.

Caso não tenha familiaridade com nenhum por enquanto, experimente o Wordfast Anywhere, que é gratuito e online. O Wordfast possui versões para desktop, disponíveis para teste e compra no site oficial, bem como o Trados e o memoQ.

Estes são os três com os quais tenho mais familiaridade, mas há muitos outros disponíveis no mercado. CAT tool é que nem escova de dente: você tem que encontrar o que combina melhor com você. Do mesmo modo que o Proz, recomendo fuçar. Cursos sobre essas ferramentas são sempre bem-vindos, mas nada como a satisfação de dominar um programa (estou falando com você, senhor Trados) depois de “brincar” dias e dias, lendo fóruns, pegando dicas – ou seja, aprendendo.

Lição número 4 – Pergunte, pergunte, pergunte

Recebeu um pedido de trabalho de “edit em Tag Editor”? Não fique na dúvida se entendeu ou não – pergunte. Claramente. Antes passar a impressão de ignorante do que fazer bobagem que não dê mais tempo de ser consertada. Os gerentes de projeto (project managers ou PMs, em inglês) costumam ser extremamente solícitos com todo mundo que está começando.

O mercado de tradução é muito dinâmico, trabalhamos com prazos, cada um usa sua nomenclatura. Tem gente que paga por palavra, outros pagam por lauda, alguns até por hora. Tenha todas essas informações a mão e saiba o que está dizendo. Na dúvida, pergunte. Perguntar não tira pedaço.

Lição número 5 – Respeite os prazos

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Pontualidade é essencial. Demonstra profissionalismo. Lisura. Estar na hora é super elegante. Portanto, faça por onde. Não se queime. Respeite os prazos que receber porque você faz parte de uma cadeia de produção – sua tradução é entregue, vai ser revisada, diagramada, e finalmente entregue ao cliente. Tudo isso tem um cronograma de planejamento. Aceitando prazos exequíveis (novamente, veja como é importante saber a sua capacidade de produção), você não só demonstra ser um profissional de confiança: você rende melhor. Rotina parece um troço sem importância, mas olha, para quem trabalha por conta própria, rotina é uma cachaça.

(continua)