Já faz um tempo que queria escrever um post comparando as duas CAT Tools com as quais tenho maior familiaridade. Assim posso ajudar quem quer se aventurar com uma delas a saber mais sobre os recursos de cada uma. Não me entenda mal, aqui você não vai achar nenhuma descrição completa de comparação entre as duas ferramentas, só minhas observações pessoais como usuária intermediária de ambas. Para melhor descrição técnica, leiam esse artigo da tradutora Emma Goldsmith, que é bem mais completo. Eu só quero tentar responder à pergunta “Qual é a melhor CAT Tool: memoQ ou Trados?”
Começando pelo Wordfast
Já escrevi aqui no começo do blogue um comparativo entre Trados e Wordfast, mas hoje em dia deixei o Wordfast de lado, por ele não me oferecer os mesmos recursos que os outros dois programas. Mas CAT Tool é igual pasta de dente: você usa a que melhor atender às suas necessidades. O que? Você não sabe o que é uma CAT Tool? Talvez esse post aqui possa te ajudar.
Mais fácil eu explicar, então, minha trajetória com esses programas. Comecei com o Wordfast Classic, que funcionava (tempo verbal “não uso mais, vai que não é mais assim?”) acoplado ao Word, com o uso de três glossários e três TMs por vez. O memoQ e o Trados já superaram esses quesitos, posso usar muito mais glossários e TMs. Para traduzir documentos de outra natureza, tinha que converter os arquivos ou usar algum plug-in (PowerPoint e PDFs, em Excel ele funcionava). Isso foi quando eu trabalhei in-house em uma agência.
Trabalhando por conta própria
Quando passei a trabalhar por conta própria, comprei uma licença do Wordfast com validade de três anos, que pode ser renovada por 50% do valor por outros três anos – veja os detalhes aqui. Os brasileiros também têm direito a um desconto de 50% para licenças individuais, então atualmente o Wordfast sai a 250 euros (pouco mais de 1000 reais na cotação de hoje). Falo sobre os detalhes de compra sem problemas porque pensava que ia perder minhas TMs se mudasse de CAT. Mas aprendi com o tempo que todas elas leem o formato .tmx, então não tenha medo de perder seus arquivos. Mas voltando à historinha…
Passando para o Trados
A partir do momento que passei a me inteirar mais sobre CAT Tools e entrar no mercado freelancer, vi que o Trados era um programa sempre exigido pelas grandes agências. Comprei, junto com uma amiga, a licença do Trados 2011, que tem a grande vantagem de ter um representante no Brasil – a Reality Soluções*. A empresa parcela no cartão, além de oferecer treinamento para uso do software a preços justos.
Uns seis meses depois, lançaram a versão 2014, que atualizamos por metade do preço da licença e que é a que uso desde então. Ainda não me aventurei a atualizar para a versão 2015. Me irrita muito essa postura de vender a licença sem validade, mas em compensação lançar versões novas todo ano, com uma ou outra funcionalidade. Prefiro não pagar nada e salvar meus .docx em .doc para o Trados 2014 conseguir ler.
Muita gente não gosta do Trados principalmente pela administração de glossários, que é feita em um programa em separado, o MultiTerm. Isso não me incomoda em nada, sinceramente, acho até interessante poder administrar os glossários em um ambiente exclusivo. O essencial para o uso do programa mesmo, na hora da tradução, que é incluir e editar termos, o Trados faz muito bem. Não faltam tutoriais online para te ajudar a fazer qualquer coisa no programa.
O que o Trados deixa a desejar, então?
Não sei se resolveram isso no 2015, mas o que mais me irrita é não conseguir adicionar um arquivo a um projeto já aberto. Colocar um Wordzinho de nada que o cliente mandou por último para usar na mesma TM, com os mesmos glossários? Meu Trados não consegue (ou o problema deve estar entre o computador e cadeira, sabe-se lá). O esquema deles de gerenciamento de pastas, que você pode editar por conta própria, também me agrada muito. Além da possibilidade de personalizar a área de trabalho para o tamanho e cor de fonte que você quiser e os comandos de pre-translate – são esses os destaques da minha experiência de usuária.
Ao compará-lo com o memoQ, no entanto, o Trados deixa a desejar nos seguintes quesitos:
- Organização de TMs. Para quem tem TMs de outras CATs, como era o meu caso, o memoQ supera em muito o Trados na hora de alinhar arquivos (original e tradução) e salvá-lo no LiveDocs para depois transferi-lo para uma TM. Não me entenda mal, os dois programas conseguem alinhar os segmentos de cada arquivo se baseando em termos-chave e permitem que você mesmo defina as conexões, editando. Mas o LiveDocs faz isso de maneira mais eficaz (são bem menos conexões de segmentos para editar).
- Predictive Typing. O memoQ tem essa ferramenta maravilhosa de adivinhar o que você quer digitar, se baseando em termos que se repetem ao longo do texto ou que estão no glossário. Que eu saiba o Trados só faz isso com termos do glossário ou do tal AutoSuggest, que suponho que seja uma ferramenta semelhante. No entanto, a minha experiência de usuária ainda não me permitiu ter uma provinha porque o AutoSuggest só é ativado a partir de uma TM com mais de 10 mil segmentos (não tenho nenhuma assim ainda).
- Tags. Malditas, odeio esses bichinhos invasores do texto. Tem uma dica bem bacana aqui do mesmo blog lá do começo sobre como se livrar delas. Mas caso elas acabem aparecendo na sua tela de trabalho no Trados ou memoQ, o segundo resolve elas de maneira bem mais simples, na aba “Edit” com o comando “Copy Next Tag Sequence”. Um clique e o cursor na posição certa e tudo resolvido. Provavelmente o Trados tem um comando parecido, mas deve estar bem no cantinho porque na hora da pressa da entrega ainda não encontrei e recorro ao copy source to original, mesmo.
- Preview. Na área de trabalho do memoQ, o texto vai mudando de idioma à medida que você traduz. Então fica ali, na sua frente, o contexto inteiro, que você pode analisar se está fluindo bem. Acho essa ferramenta o grande destaque do memoQ, minha vida de tradutora foi bastante afetada por ela. Espero sinceramente que todas as outras CATs estejam adotando por aí.
E o memoQ? Não tem defeitos?
Por sua vez, o memoQ me irrita sobremaneira na hora de começarmos um projeto. É uma chatice salvar pastas lógicas como a do Trados, que faz uma para os originais, uma para a TM e outra para a tradução, que você pode salvar facilmente no seu pen drive. O memoQ sempre quer salvar no “C:” e se você tenta editar a localização dos arquivos, acaba com uma pasta no pen drive cheia de arquivos .mtx e .mtm que não fazem o menor sentido. Deveria ser um pacotinho mais lógico como o Trados. A falta de uma visualização do número de palavras e porcentagem de conclusão no esquema “100 palavras (85%)” me faz bastante falta no memoQ. Novamente, pode ter sido um problema meu mesmo não ter achado onde editar isso na minha área de trabalho, mas para mim só aparece uma coisa assim:
Compare com a simplicidade do concorrente:
E quanto custa?
Quanto ao doloroso tema “preço”, os dois programas são importados e o dólar está aí nas alturas, mas o Trados leva vantagem por ter um representante nacional que facilita o pagamento.
O memoQ atualmente está saindo a 372 euros (R$ 1645,00 na cotação Google de hoje), com 1 ano de suporte e atualizações, podendo ser usado em dois computadores diferentes. O Trados 2015 está saindo, até dia 29/01/2016, a R$ 1880,00, também podendo ser usado em dois computadores diferentes e podendo pagar em 6 vezes sem juros.
Divida a licença com um colega tradutor, é a minha dica. Eu sei que o custo é alto, mas ele é pago com seus primeiros trabalhos, pense assim. Ambos tem trial de uso de 30 dias, é o mês que você tem para arrecadar a grana.
* Atualização em 04/07/19 – A Reality Traduções não está mais em operação.
* Atualização em 08/02/2021 – A representante da SDL no Brasil atualmente é uma empresa mexicana chamada Babel DGT.