Permuta de serviços funciona com tradução?

Escambo
Brasil colônia? Não, Rio de Janeiro, 2013.

Você já ouviu falar de permuta de serviços? Será que é algo que funciona com tradução?

Começando pelo começo

Tenho mandado e-mails para estabelecimentos comerciais do Rio me oferecendo para traduzir seus sites. Este ano sediaremos a Copa das Confederações e a Jornada Mundial da Juventude; ano que vem a Copa do Mundo e em 2016, as Olimpíadas. A população de estrangeiros na cidade alcançará uma marca histórica, então muita gente vai querer frequentar restaurantes, cafés, lojas, supermercados e – olha só, que coisa – não entenderá nada do que está escrito nos sites deles porque não há versão em inglês ou espanhol. Me parecem argumentos válidos para um comerciante considerar o investimento de traduzir seu site e captar novos clientes.

Então lá fui eu. E-mail para lá e para cá. Um deles foi muito receptivo, entusiasmou-se com a ideia de ter seu menu bilíngue e logo me pediu um orçamento. Mandei, apresentando a tabela de preços do Sindicato dos Tradutores, para mostrar o belo desconto promocional que eu estava oferecendo de cortesia por ser novo cliente. O homem me respondeu perguntando se eu trabalhava com permuta.

Fui ao dicionário, pensando “vai que não é escambo, vai que não é”. Mas, para minha decepção, tá lá no Houaiss (só para assinantes da Folha ou do UOL):

permuta

1 troca de objetos entre seus respectivos donos; troca recíproca

High-Fidelity-John-Cusack-misery
‹ permuta de discos entre colecionadores ›

Sim, de fato, o homem me ofereceu como pagamento pela tradução do site do restaurante dele comida. Parece uma ideia deliciosa, não precisasse eu pagar as minhas contas do mês – mas a operadora de celular ainda não recebe em espaguete, a luz não se paga com bolinho de bacalhau, o condomínio não aceita petit gâteau.

Questão de escolha pessoal

Olha, não vou nem elencar todo o investimento que minha família fez para que eu hoje fosse uma tradutora capaz de verter para o inglês termos como “arroz à grega”, “batata noisette” ou “pudim de leite condensado”. O pessoal do ramo alimentício na certa deve achar que esses termos não têm tradução porque “é comida que só existe aqui”.

Aproveitando o espaço, declaro também ser capaz de verter termos técnicos da indústria do petróleo, do mercado de capitais, de contratos de seguros. Talvez esse tipo de texto me valorize mais como profissional, porque até o momento nenhum desses clientes me ofereceu barris de petróleo, ações preferenciais ou sinistros como pagamento. Vou até publicar a seguir a versão em inglês desse desabafo, quem sabe assim o pessoal vê o trabalho que eu tive de achar a versão dos termos corretamente e valoriza mais a minha profissão.

Conclusão

Naturalmente, essa foi minha decisão pessoal, mas todo mundo sabe onde seu sapato aperta. Fique ciente de que essa é uma prática no mercado para diversas outras atividades do mercado, estando disposto(a) a aceitar, fique à vontade. Eu prefiro de forma monetária, mesmo.