Parece que minha investida como freelancer está finalmente provando ser uma escolha certa em termos de trabalho. Faz um bom tempo que – ainda bem! – estou trabalhando num ritmo bem acelerado. Acho vantajoso para fazer um pé de meia para os meses mais parados (meu último janeiro foi um marasmo) e para aprender uns macetes da profissão. Isto posto, decidi escrever sobre meus aprendizados recentes do ofício da tradução.
Urgente não significa mais nada (para mim)
Parei de me martirizar com prazos. Não que não me importe mais com eles, em absoluto, mas não mais me submeto à guerra psicológica que eles originam. As pessoas estão mudando o significado de “urgente”, querem tudo pra semana retrasada. Pera lá.
Recentemente, por exemplo, me passaram um trabalho que eu não consegui deixar editável para traduzir com uma CAT tool. Me senti em 1953, traduzindo olhando para um papel no original e digitando palavra por palavra na outra língua. Claro que não iria conseguir cumprir o prazo. Avisei o cliente – que, naturalmente, já tinha passado a informação a seu cliente final e ficou tenso com a possível falha. Em outros tempos, me sentiria extremamente culpada e me dividiria em três para cumprir o prazo.
Dessa vez fui firme, expliquei a situação, disse que estava buscando outros tradutores para me ajudarem e que não, o documento não ia sair naquela hora previamente acordada. Os momentos de pânico exigem tranquilidade, ora bolas. Meu irmão acabou me dando uma grande ajuda (porque Murphy é meu pastor e ninguém mais estava disponível) e entreguei pouco tempo depois do acordo, em condições de temperatura e pressão extremamente não favoráveis.
O cliente percebeu o abacaxi que descasquei e ficou agradecido. Melhor do que ter me desesperado, feito de qualquer jeito e perder um cliente, não é mesmo?
Não há motivo para crescer o olho
Essa é uma opinião completamente pessoal, creio que varia de pessoa para pessoa, mas olha: ando fugindo de projeto grande. Acima de 15 mil palavras para mim é grande. Primeiro, porque funciono melhor com documentos curtos, já que não vou ficar entediada com aquele assunto infinito e a tradução flui melhor. Nada me aborrece mais do que ainda estar na página 27 de 256.
Aceitei projetos longos no passado por pura ganância, confesso, e agora, arrependimento, teu nome é Marina Borges. Sem contar que em geral são vários tradutores trabalhando em projetos como esse, é uma situação estranha.
Como bem disse alguém dia desses, quando soube que era tradutora: “Parece um trabalho solitário”. Solitário, sim, mas eu adoro. Detesto ter que ficar discutindo com outrem se vamos uniformizar a tradução de “under the term of” por “consoante”, “segundo” ou “nos termos de”.
Em resumo: caixão não tem gaveta e vinte documentos pequenos são do mesmo tamanho de um grandão no fim do mês.
Transcrição é transcrição, tradução é tradução
Me pediram para transcrever e traduzir um vídeo de 20 minutos dia desses. Nunca tinha feito um trabalho do tipo, consultei a tabela do Sintra, estava lá “transcrição de áudio em mais de um idioma”, cobrei o equivalente do valor da hora.
Tolice minha. Tive um trabalho dobrado traduzindo também. Deveria ter cobrado pela transcrição desse modo, sim (só que só em um idioma) e depois cobrado a tradução pelo número de palavras produzido. Vivendo a aprendendo, da próxima vez cobro o preço certo.
Mudança de ares
Aproveitei o dinheirinho extra e comprei mobília nova pro meu home office. Investi em uma boa estante (para que na hora de pegar um dicionário eu levante e dê uma levantada da cadeira), em prateleiras para tirar todos os bibelôs da minha mesa e, sim, me dei uma linda mesa nova. Assim que tudo estiver arrumado, tiro fotos e posto no blog. Acho que vale muito a pena estar sempre em busca de um local de trabalho ideal. Já temos todas as questões de trabalhar em casa, em horários absurdos – o mínimo que podemos ter é certo conforto.