Sobre as manifestações no Brasil nos últimos dias, não consigo definir com exatidão porque estamos com tanta raiva.
Você pode ler mais a respeito do tema aqui, aqui e aqui.
Sim, tudo começou com um aumento de 20 centavos nas passagens de ônibus semana passada, mas agora estamos indo em outra direção.
Como é ser brasileiro?
Olha só, ser brasileiro não é fácil. Mesmo que você seja de uma família privilegiada como a minha, todos os dias temos que testemunhar injustiça social, bem na nossa cara. Há mendigos, crianças vendendo chiclete no sinal, jovens mães com recém-nascidos te pedindo dinheiro para o leite. E eu não digo isso porque agora moro no Rio, pertinho de uma favela. A minha vida toda em Brasília eu vi essas mesmas coisas.
Uma vez um entregador estava na minha casa deixando um galão d’água, quando viu meu irmão saindo para trabalhar. Na época, ele era estagiário do Senado, então trabalhava de terno. O entregador deve ter achado que ele estava muito elegante e era muito inteligente, então perguntou para a minha mãe se aquele era o filho dela. Ela disse que sim e explicou onde ele estava indo, que tinha estudado muito para chegar ali, que um dia, se ele quisesse, poderia ser tão importante como ele, essas coisas. O garoto, no entanto, já tinha aceitado sua condição social e disse que não, nunca poderia ser como ele. Ela sentiu pena por ter feito ele se sentir assim, mas imediatamente respondeu “Você pode ser o que você quiser”. Aí o coitado do garoto foi honesto em admitir: “Não, senhora, não posso. Eu não sou gente”.
Por que protestar?
É sobre esse sentimento que estamos protestando. Estamos lutando para que as pessoas comecem a achar que merecem ser gente.
E esse é o momento de protestar, afinal de contas, o mundo inteiro finalmente está prestando atenção no gigante da América do Sul – seja por causa de futebol, por causa do Papa ou por causa do Bolsa Família. O mundo finalmente está nos escutando.
Acho que é por isso que estamos com tanta raiva.
P.S.: as redes sociais com certeza estão fazendo a diferença:
